sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ARENA BRASILEIRA Conto de Viviane Flores Goldini

            Januária não reclamava das roupas tristes que lavava. Tão sujas, rotas, tantos buracos que pareciam os das goteiras de sua casa. Deu risada, pensou: Isso merecia um filme ou pelo menos uma risada. Pobre só sai na televisão triste, preso, fudido. Subiu o morro pra fazer a janta carregada de balde d’água. Os meninos ainda iam ter que caçar, marido foi pro mundo arranjar o ouro que todo tolo encontra embaixo da ponte.
            Outra vez arroz, feijão e farinha. Ai de quem reclamasse! Dos três, primeiro chegou o caçula Miguel, não deu uma palavra.
            Januária logo perguntou:
            – Qual foi a aprontação de hoje?
            – Nada, não.
            – Diz logo se sabe. Se mente, apanha, mas se fala a verdade, posso até remedia.
            – Foi moço, mãe, fotógrafo tirou foto minha, mas de roupa, diz que era pra pesquisa, de
Paulo e André também, pago nóis tudo certo, acho que Paulo e André tão lá ainda com ele.
            Januária saiu feito uma égua em disparada, corria, suava, seus pensamentos tinham a força de um coice e a velocidade do desespero.
            Chegou na mercearia onde Miguel disse que Paulo e André ficaram e lá estavam.
            Aparência de estrangeiro, mas era daqui mesmo o fotógrafo.
            Januária tenteou manter-se calma, mandou os guris pra casa, mas antes os fez devolver o dinheiro que o moço tinha dado...

Epílogo:
Januária na cadeia quebrou a máquina de fotógrafo. Os meninos ficaram soltos no morro, sendo tratados pelas comadres Januárias que nem ela.
Januária pensou: Tem máquina de pesquisa aqui!

VIVIANE FLORES GOLDONI publicou o livro: "Poesias bipolares", pela Imprensa Oficial do Estado do Paraná - Secretaria de Estado da Cultura.

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