O cinza-quadro.
Conto inspirado no quadro do artista plástico Paulo Dias.
REF. 06857 C
Sou feito do
cinza, na mistura perfeita da lembrança com a imaginação.
Meu retrato
é de fato incontestável, a vida em sua eterna mutação.
Sou cinza,
também pudera quem ouvira dizer que a lembrança se colore a cada era?
O que não me
colore, ainda que não ignore tons como:
o preto (ausência de cor) e o branco (expansão de luz), é a recordação.
Já explico:
recordação tem tom de cinza.
Sou o dia de
hoje, só que ontem.
Sou o macaco
que evolui. (Mesmo sabendo que hoje ainda existem macacos). Sou o macaco de
antes.
Sou o piuí
do trem em movimento anunciando com sua brasa, em extensa fumaça, a próxima
estação.
Sou a tela
pintada pela imaginação de um pintor.
A chaleira,
que por diversas vezes, com a água da fonte, ferveu e perfumou as manhãs com
aroma de café quente. Ela, que aos entardeceres contribuiu para cerimônias em
volta da mesa de chá.
Sou feito da
criança que cochichou sua infância a um amigo que só ela imaginou.
Sou a
igreja, na qual o padre, senhor religioso, silenciou tantas confissões. Com seu
pai-nosso e tantas outras ave-marias, salvou almas do pecado, permitindo ao
fiel, a redenção.
Tenho em
meus traços, a projeção de um passado que em preto e branco se pincelou.
Esse
passado, que hoje não passa de um belo retrato, que um dia, alguém viveu, ou
quem sabe, só imaginou.
Por Marina
Carraro, 19/09/2012
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